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sábado, 16 de julho de 2022

A Felicidade das Pequenas Coisas

 Por Flávio Dias



Começou o Festival do Rio no Telecine 2022. Conferi a estreia do primeiro filme do evento no streaming do Telecine, que ficou no ar ontem, 15 de julho, durante 24 horas: “A Felicidade das Pequenas Coisas”.


Butão é um país com pouco mais de 830 mil habitantes e com área territorial de 38.394 km2, cheio de montanhas, algumas chegando aos 7 mil metros de altura. É desse pequeno país da Ásia que vem “A Felicidade das Pequenas Coisas”.



O jovem Ugyen estuda para ser professor, mas seu sonho é cantar na cidade de Sydney, na Austrália. Como meta de governo, ele é deslocado para a pequena Lunana, uma cidade nas montanhas com 56 habitantes para dar aula para crianças. Lá encontra uma escola sem recursos, com eletricidade precária e um povo amigável, gentil e com alunos querendo muito estudar.


O filme é bonito, comovente, mostrando a importância dos estudos para o futuro de uma nação. No início Ugyen não quer ir para lá, mas dá um novo sentido e rumo para o jovem professor. Seu sonho praticamente fica esquecido durante o longa. Com a ajuda de um amigo, que envia materiais escolares, além da cooperação dos moradores, fazendo, por exemplo, uma lousa para dar as aulas. Antes tinha apenas uma parede, que mal dava para escrever.


O que impressiona são as atuações simples, que não afetam a condução da trama, a direção acertada de Pawo Choyning Dorji, em seu primeiro longa, e a fotografia das paisagens da natureza de Jigme Tenzing. O filme é todo voltado para Ugyen, interpretado por Sherab Dorji,  do seu sonho de cantar, de não querer ser um funcionário do governo, da sua falta de ânimo para ir para Lunana, sua relutância para dar aula. Depois vem a necessidade e vontade de fazer algo pelas crianças.


O diretor Powo em entrevista divulgada no jornal O Globo explica a inspiração para o longa: “Durante parte do século passado, estávamos nesse mundo de ignorância e felicidade, sem saber o que havia lá fora, satisfeitos com nossa vida dentro das montanhas. Hoje, muitos butaneses mais jovens acreditam que a felicidade está fora do país. Este filme é reflexo das histórias no Butão de agora”. Complementa com uma de suas preocupações do mundo atual: “Estamos sempre presos em nossas telas (celular, por exemplo). Meu protagonista começa a abrir os olhos para um novo mundo justamente quando suas telas se apagam”. O diretor faz uma reflexão sobre seu país diante do mundo de hoje: “Penso que meu país é um dos mais singulares do mundo. Estávamos em autoisolamento pela maior parte do século XX. Só abrimos para o mundo nos anos 1970 e 1980, e continuamos a ser um dos países mais privados. (...) E tudo isso é feito porque queremos proteger nosso modo de vida, nossa cultura. (...) o Butão se abriu lentamente para o mundo exterior. Nos anos 2000, quando eu era adolescente, nos tornamos o último país do mundo a receber a televisão, e também fomos o último a receber internet. Quando essas coisas acontecem, a dinâmica da população e da cultura muda”.


O Butão é o país que criou o índice de felicidade populacional. A meta de ter professores em todas as escolas é justamente essa: levar felicidade e esperança para o povo. O rei Jigme Singye Wanhchuck foi o criador do índice nos anos 1970. Sua ideia: o nível de riqueza de uma nação não deveria ser mensurado apenas por produtos ou consumo, mas também pelo conforto mental de seu povo. Além dos estudos, a espiritualidade e acesso à cultura fazem parte do cálculo para chegar a sonhada felicidade. O mais interessante: o índice aferido anualmente pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, Butão não está incluso nos 146 países com maior felicidade. Em primeiros lugares estão a Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suíça e Holanda. O Brasil ocupa no relatório divulgado em março de 2022, a posição de 38º. 


Este é o segundo filme de Butão a concorrer na corrida ao Oscar melhor filme internacional. O anterior “A Copa”, de Khyentse Norbu, foi submetido pelo país ao prêmio, mas não chegou à lista dos pré-selecionados. Portanto, é o primeiro a concorrer na categoria.


Com simplicidade, “A Felicidade das Pequenas Coisas” encanta, traz um novo olhar sobre um país isolado do mundo, trazendo reflexões sobre o mundo de tanta tecnologia que vivemos hoje. Afinal, a felicidade pode esta onde você menos espera.



A Felicidade das Pequenas Coisas 
⭐⭐⭐⭐

Título Original: Lunana: A Yak In The Classroom

Direção: Pawo Choyning Dorji

Roteiro: Pawo Choyning Dorji

Gênero: Drama, Aventura

País: Butão, China

Ano: 2019

Duração: 110 minutos

Produção: Dangphu Dingphu, Huanxi Media Group

Distribuição Brasil: Pandora Filmes

Disponível: Telecine / Globoplay

 


 


Fontes:

https://globoplay.globo.com/a-felicidade-das-pequenas-coisas/t/LmMfHqv72h/

https://globoplay.globo.com/categorias/telecine-festival-do-rio/

https://www.imdb.com/title/tt10189300/?ref_=nv_sr_srsg_0

https://www.adorocinema.com/filmes/filme-279377/

https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/diretor-do-butao-pre-indicado-ao-oscar-fala-sobre-fragilidade-da-industria-no-pais-recruto-profissionais-em-restaurantes-25370400

https://gizmodo.uol.com.br/mapa-mostra-indice-de-felicidade-em-cada-pais-confira-o-lider-e-a-posicao-do-brasil/

https://worldhappiness.report/ed/2022/happiness-benevolence-and-trust-during-covid-19-and-beyond/#ranking-of-happiness-2019-2021

https://veja.abril.com.br/comportamento/por-que-as-taxas-de-felicidade-no-mundo-nao-despencaram-na-pandemia/

https://pt.wikipedia.org/wiki/But%C3%A3o

Imagens:

Rede Telecine / Globoplay

Google Imagens

Google Maps

Trailer:

Youtube

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