Com o surgimento dos streamings no Brasil, ficou difícil de
saber onde encontrar os filmes que saíram do cinema para a tela da TV. A
pandemia ajudou a bagunçar os títulos que antes sabíamos onde ver. Se antes
Telecine e HBO eram os caminhos naturais para ver os filmes, agora virou uma
roleta russa. Um bom exemplo são os filmes indicados ao Oscar 2022. E ainda o surgimento de novos players no mercado.
Em 2019, antes da pandemia da Covid-19, os grandes estúdios
de Hollywood tinham acordos com dois dos maiores canais de filmes no Brasil: Telecine e HBO. O Telecine foi quem mais perdeu exclusividade do cinema para a
TV paga e seu streaming. Até então, Paramount
Pictures, MGM, 20th Century Fox, Universal Pictures e Disney iam direto para a tela do canal. Hoje está tudo dividido.
Entraram na jogada os streamings. Filmes da Paramount e Disney, a
partir de 2020, foram parar na Amazon
Prime e Netflix. Foram os casos
de “Cloverfield Paradox”, “Aniquilação”, “A Guerra do Amanhã”, “Sem
Remorso”, entre outros, da Paramount Pictures estrearam direto na Amazon
Prime. “Amor e Monstros”, do estúdio
da montanha, foi para a Netflix. Os filmes da Disney, como “Capitã Marvel”, “Vingadores Ultimato”, depois do encerramento do acordo com o
Telecine, foram para a Amazon por um período curto antes do lançamento do Disney+.
O mesmo ocorreu com os estúdios da companhia Sony: “Cinderela”, “Hotel
Transilvânia 4”, por exemplo, foram para a Amazon Prime. O estúdio tem
acordo com a HBO, mas já houve ameaça de abandonar o canal pelo não pagamento
de exibição de seus títulos. Na época quase foi parar no Telecine.
Quem mais perdeu com isso tudo foi o Telecine. A partir de 2020 começou a exibir filmes menores e menos
conhecidos na principal sessão de cinema: a Superestreia dos sábados à noite. A
HBO fez o mesmo e não exibiu filmes
considerados inéditos na TV paga em
alguns sábados. Para piorar a situação, muitos filmes foram adiados inúmeras
vezes, fazendo a janela do cinema para a TV dificultar a exibição de grandes
títulos. A alternativa dos canais foi buscar títulos em festivais e
distribuidoras, ou títulos perdidos e com menor impacto. Tanto que o Telecine
criou a sessão Premiere Telecine,
filmes não exibidos no cinema direto para a TV. Alguns são cults, com passagens
por festivais e outros bem ruins, com tramas manjadas.
Após a maior crise da pandemia, os cinemas reabriram. Os
estúdios Disney e Warner começaram a exibir
simultaneamente os filmes lançados nos cinemas em seus players de streaming. O Disney+, que chegou ao Brasil em
novembro de 2020, iniciou com grandes lançamentos de filmes e séries
exclusivas. “A Dama e o Vagabundo”
(versão live-action de 2020), “Hamilton”
foram uns dos primeiros a chegar ao streaming do Mickey. Da Warner Bros “Convenção
das Bruxas”, “Tenet”, “O Jardim Secreto” (nova versão), “Scooby-Doo”, “
Mulher-Maravilha 1984”, entre outros, chegaram no canal HBO junto
da estreia da HBO Max.
Se é bom para os canais é ruim para os exibidores. Isso faz
cair as receitas das salas de cinema. O modelo atual impacta a todos os
envolvidos na cadeia: do distribuidor local, dos exibidores, das salas de
cinema. Impactando também no consumo de venda de DVDs. Quem vai querer comprar
um DVD que está disponível no seu streaming?
Alguns estúdios continuaram com a parceria de exibição
exclusiva. É o caso da Universal
Pictures, Dreamwork (da Comcast Company) e MGM com muitos títulos ainda passando no Telecine. Mesmo assim, alguns começaram neste ano a fugir do catálogo
tradicional do canal: “Casa Gucci”,
uma produção da Universal Pictures, MGM, Bron Studios e Scott Free, será
exibido no Paramount+. Boa parte dos
filmes da Paramount ainda estão sendo exibidos. “Um Lugar Silencioso: Parte II” teve a janela cinema e TV
paga/streaming para o Telecine. É inevitável questionar: o Telecine vai acabar?
Isso ocorre devido a três fatores:
1 – Filmes com
pouco potencial para exibição nos cinemas são vendidos para os streamings,
fazendo o estúdio lucrar mais se fosse exibido nas salas de cinema, ainda mais
no período da pandemia. Alguns exemplos citados acima.
2 – Para ajeitar
o calendário das principais produções e deixar os menores direto para os canais
de filmes e/ou streaming.
3 – O crescimento
de seus próprios players de streaming para conquistar assinantes, caso da
Disney+, HBO Max, Star+ e Paramount+ com exclusividade.
Do cinema para o
streaming
No texto sobre o Oscar 2022, publicado na semana passada
neste blog, fica evidente o movimento do cinema para o streaming de muitos
filmes. Veja alguns títulos que já estão ou ainda vão estrear:
20th Century Studio:
“Amor, Sublime Amor”:
Star+ a partir do dia 2 de março.
“O Beco do Pesadelo”:
sem confirmação, pode ir para o Telecine ou Star+. Alguns títulos do Studio
ainda estão sendo exibido no Telecine.
“Spencer”: segue o
mesmo caminho: ou Telecine, ou Star+.
“Free Guy: Assumindo o
Controle”: Disponível no Star+
Universal Pictures:
“Belfast”: Cotado
para ser exibido no Telecine. Estreia nos cinemas dia 31 de março.
“Licorice Pizza”:
Cotado para ser exibido no Telecine. Estreia nos cinemas dia 17 de fevereiro.
“Casa Gucci”:
Confirmado para ser exibido em breve no Paramount+. É o primeiro título de
grande peso do estúdio fora do Telecine.
Warner Bros e Sony
Pictures:
“Duna”: disponível
na HBO Max.
“King Richard: Criando
Campeãs”: Disponível na HBO Max
“Homem-Aranha: Sem
Volta Para Casa”: da Sony e Marvel, o caminho natural é HBO/HBO Max. Conta
quem distribui neste caso.
MGM:
“Cyrano”: mesmo o
Telecine ainda parceiro do estúdio, o filme pode ir para Amazon Prime, nova
dona da MGM.
“007 Sem Tempo Para
Morrer”: Confirmado para o Telecine.
Paramount Pictures:
“Um Príncipe em Nova
York 2”: Disponível no Amazon Prime.
Lembrando que muitos títulos são exibidos em segunda mão nos
canais e streaming. O Telecine exibe filmes da Warner e Sony há alguns anos
assim que sai do catálogo da HBO. O mesmo ocorre do Telecine para HBO. E outros
títulos exclusivos ainda passam em outros players como Mubi, por exemplo, caso
de “Drive My Car”, confirmado pela
plataforma.
Conglomerados
Os estúdios e canais não são mais os mesmos. Hoje todos
pertencem a uma grande empresa por trás dos estúdios. A MGM (Metro-Goldwyn-Mayer), depois de passar por vários donos,
pertence hoje a Amazon. Foi comprada
por R$ 44,8 bilhões, levando todo o acervo. Na disputa estavam Comcast (dona da
Universal Pictures, Focus Features, NBC) e Apple para adquirir o estúdio do
leão. O acordo foi afirmado em 26 de maio de 2021.
A Warner Bros,
depois da AOL e Time-Warner, a AT&T adquiriu por US$ 85 bilhões em outubro
de 2016. Na última semana ocorreu a aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a fusão entre a
Warner e Discovery no Brasil. No ano passado, nos EUA, houve a concretização da
união das duas empresas. A partir de agora passa a se chamar Warner Bros. Discovery. Pertence ao
grupo a HBO, DC, New Line Cinema, grupo Turner (TNT, CNN, Cartoon Network,
etc.), Food Network, HGTV (as duas foram antes da Scripps Network comprada pela
Discovery em 2017), Animal Planet, Discovery Turbo, além dos streamings HBO Max e Discovery+.
Outra grande poderosa no mundo das aquisições é a Disney Company. Tem em seus domínios o
canal ABC, Lucas Ltda, Marvel Enterprises, Pixar, 20th Century Studio, Blue
Sky, entre outros. A Fox, antes do empresário Rupert Murdoch (somente as
empresas como Fox News e mídias jornalísticas pertencem hoje ao bilionário),
foi adquirida em 2019 por US$ 71 bilhões levando os canais Fox Channel, FX, Fox
Life e Fox Sports. Com o passar do tempo, mudou o nome retirando o Fox e
colocando o Studio. Os canais também mudaram de nome: Star Channel, Star Life
e os canais ESPN. No início deste
ano, a Disney resolveu mudar o nome de todos os canais ESPN. Nem a ESPN Brasil
escapou. Ficando assim: ESPN Extra
(única que não mudou), ESPN (antigo
ESPN Brasil), ESPN 2 (antes ESPN), ESPN 3 (antes ESPN 2) e ESPN 4 (antes Fox Sport). O Fox Sport 2 continua no ar sem
mudança de nome. Agora em fevereiro acabou com os canais Star Hits 1 e 2 (serviço premium por assinatura com séries) e
anunciou que irá tirar outros canais na américa latina, mas sem informar em
quais países, entre eles o Disney XD,
Disney Jr., Natgeo Wild, etc., lançado um único canal no lugar, o Cinecanal, exibindo filmes. Não é de
hoje que a Disney acaba com produtos adquiridos. Os estúdios de cinema Hollywood Pictures e Touchstone Pictures não existem mais. A
Miramax, que era do grupo, hoje
pertence a beIN Media Group e ViacomCBS. A bola da vez é o grupo Fox
que foi totalmente descaracterizado. Ainda pertence ao grupo o Disney+ e Star+, ambos serviços de streaming, entre outros negócios como
parques, resorts, hotéis, etc.
A ViacomCBS tem
em seu portfólio o estúdio Paramount
Pictures, os canais MTV, VH1,
Nickelodeon, The CW, CBS, BET, Pluto TV, Paramount Channel, Comedy Central,
Showtime e seu streaming Paramount+,
entre muitos outros canais e negócios fora da mídia de entretenimento. Também
já foi parceiro da Dreamwork para
distribuição de filmes. No Brasil mantem acordo com o Telecine, mas exibe alguns filmes para outros streamings como Amazon Prime e Netflix. No futuro é bem provável que seus títulos sejam exclusivos para o Paramount.
A Comcast Company
é dona dos estúdios Universal Pictures,
Focus Features, Working Title, Dreamworks, dos canais Universal TV, Studio Universal, Syfy, E!, USA, NBC, Telemundo,
entre outros e do streaming Peacock
(não disponível no Brasil), além de parques e resorts. No Brasil, a
distribuição de seus canais, é feita pelo grupo Globo. Seus filmes estão no Telecine,
mas já começou a desviar para outros streamings alguns títulos.
Único conglomerado de mídia totalmente brasileiro, o Grupo Globo vem investindo pesado na
sua plataforma de streaming. O Globoplay
tem os mesmos conteúdos que os outros: séries, filmes, documentários, especiais
musicais, biografias e novelas, que até então era a única entre os grandes a
ter a teledramaturgia no catálogo (a Netflix também passou a exibir novelas do SBT e estrangeiras). Também é o único com transmissão de seus
canais ao vivo. Pertencem ao grupo os canais Bis, Multishow, Globonews, GNT, Modo Viagem (canal que mudou de
nome, antes Mais na Tela, que já foi Mais Globosat), Futura, três canais Sportv,
Canal Viva, Canal Brasil, Gloob,
Gloobinho, Canal Off, Megapix, os pay-per-views Premiere e Combate. Ainda distribui os
canais da Universal TV, Syfy e Studio Universal da Comcast, as rádios
CBN Rio e CBN SP também estão na plataforma. O Telecine, com seus seis canais (Telecine Premium, Action, Touch, Fun, Pipoca e Cult), uma joint ventures
entre estúdios (Paramount, Universal, MGM, Dreamworks, 20th Century Studios), entrou no dia 25 de janeiro no Globoplay, incluindo o sinal ao
vivo para os assinantes do combo. Antes contava com site e aplicativo próprio,
perdendo um dos melhores sites de cinema, com informações que nenhuma outra
plataforma de filmes continha. Também na plataforma, as transmissões da
programação de todos os canais e do reality show Big Brother Brasil, de eventos esportivos como o Mundial de Surf, Olimpíadas de Tóquio,
Olimpíadas de Inverno, entre outros.
Outros players nacionais também têm seu streaming, como o
PlayPlus da
Record TV, o
Band Play
do grupo
Band, mas sem o mesmo
alcance como a concorrente Globoplay. Ainda tem poucas empresas nacionais
investindo no streaming. Redes como
SBT
e
RedeTV! investem no
YouTube e no seus sites para seus
produtos. A
Band tem seus canais na
TV paga como
Arte1, Sabor & Arte,
Band Sport, Band News, Agro News e distribui o
Smithsonian Channel no Brasil. Em 2016,
SBT, RedeTV e Record TV se uniram para formar a
Simba Content com o objetivo de
distribuir seus sinais nas TV por assinatura e cobrar pelo serviço. Lembrando
que os canais envolvidos são empresas de concessão pública para a TV aberta,
assim como a
TV Globo sem cobrança
para os usuários. Apesar da aprovação da
Anatel
e
CADE, a empresa Simba não foi para
frente. Houve vários imbróglios com operadoras e processos correm na justiça.
Futuro dos canais
Com a movimentação dos produtos indo direto para os
streamings, fica a questão se os canais da TV
paga vão continuar com o modelo de hoje. A exclusividade para os streamings
é natural, visto o avanço de números de assinantes cada vez menores para as TVs por cabo e satélite e mais
acervo abastecendo o sistema online. Sem contar que empresas como Netflix, Amazon Prime, HBO Max e Globoplay vêm investindo em aquisições
e produzindo para os seus próprios sistemas. São filmes, séries, documentários,
especiais musicais, biografias. Tudo para conquistar mais e mais assinantes e
aumentar o número de acessos.
Mas será que os canais da TV paga vão acabar? Apesar do
crescimento bem elevado dos streamings, fica difícil imaginar que a TV paga de
hoje morra. O invento do rádio não acabou com os livros. O cinema não acabou
com o rádio. A TV não acabou com o cinema. A TV paga não matou a TV aberta. O
streaming não vai tão cedo acabar com a TV paga. Percebe-se o movimento de inventar
e não deixar o que já existia acabar. Talvez o único que morreu neste caminho
seja o aparelho de DVDs. Dificilmente você irá encontrar um nas lojas ou nas
lojas online.
Embora as operadoras da TV paga ou TV por assinatura tenham
seus sistemas online, o que pode ocorrer é a TV paga se reinventar, criar um
meio de sobrevivência. Hoje com inúmeros canais, sendo a maioria pertencendo a
empresas que tem seu sistema online de players no catálogo de canais das operadoras, naturalmente pode ser que a TV
paga se una ainda mais ao streaming. O modelo atual de pacotes fechados, sem
possibilidade de escolher os canais que o cliente realmente quer ver, tem que
acabar. Fazendo diminuir os preços, que na sua maioria, são bem salgados. Com
pacotes mais voltados ao streaming, pode aproximar os clientes e ganhar novos
assinantes. O preço atual dos streamings varia de R$ 9,90 até R$ 55,00. Se o
cliente escolher pagar um pacote contendo, por exemplo, três operadores de
streaming, vai pagar menos, mesmo com taxa de adesão e cobrança de uso da
internet. Exemplo: o cliente quer Globoplay (R$ 24,90 plano básico), Amazon Prime (R$ 9,90) e Netflix (R$ 55,00 plano premium) vai
gastar R$ 99,80 mensal. Mas se buscar os menores preços, sem combo: Amazon Prime R$ 9,90, AppleTV+ R$ 9,90 e Paramount+ R$ 19,90: R$ 39,70 por mês. Os valores não englobam as
taxas, que podem variar de uma operadora para outra.
Seja como for, o caminho para não perder assinantes mês a
mês para a TV paga, é mudar seu sistema em um todo. Não dá mais para ficar
preso às mesmas regras do passado, a mesma fórmula de pacotes fechados. Claro
que para isso é preciso mudar a lei, regida pela Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações). Mudando tudo para a
TV paga, muda também para os streamings e, porque não, para a TV aberta também.
Muitas mudanças ainda estão por vir. No futuro, o que conhecemos sobre TV
e entretenimento físico e online, não será como hoje.
CINEMA TV TVPAGA TV POR ASSINATURA STREAMING GLOBOPLAY HBOMAX DISNEY PLUS PARAMOUNT PLUS UNIVERSAL PICTURES WARNER DISCOVERY SONY AMAZON NETFLIX APPLETV PLUS GLOBO SBT RECORD REDETV SIMBA PLURALIS MUNDI PLURAL MUNDO BLOG BLOGGER
Imagem:
Google Imagens
Fontes:
https://brasil.elpais.com/economia/2021-05-26/amazon-entra-em-hollywood-com-a-compra-dos-estudios-metro-goldwyn-mayer.html
https://olhardigital.com.br/2021/05/18/videos/negocio-bilionario-amazon-pode-estar-negociando-compra-do-estudio-mgm/
https://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2022/02/07/cade-aprova-a-fusao-entre-warnermedia-e-discovery.html
https://www.poder360.com.br/midia/canais-espn-e-fox-sports-mudam-de-nome-no-brasil/
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