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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Onde está o filme?

 

Com o surgimento dos streamings no Brasil, ficou difícil de saber onde encontrar os filmes que saíram do cinema para a tela da TV. A pandemia ajudou a bagunçar os títulos que antes sabíamos onde ver. Se antes Telecine e HBO eram os caminhos naturais para ver os filmes, agora virou uma roleta russa. Um bom exemplo são os filmes indicados ao Oscar 2022. E ainda o surgimento de novos players no mercado.

Em 2019, antes da pandemia da Covid-19, os grandes estúdios de Hollywood tinham acordos com dois dos maiores canais de filmes no Brasil: Telecine e HBO. O Telecine foi quem mais perdeu exclusividade do cinema para a TV paga e seu streaming. Até então, Paramount Pictures, MGM, 20th Century Fox, Universal Pictures e Disney iam direto para a tela do canal. Hoje está tudo dividido. Entraram na jogada os streamings. Filmes da Paramount e Disney, a partir de 2020, foram parar na Amazon Prime e Netflix. Foram os casos de “Cloverfield Paradox”, “Aniquilação”, “A Guerra do Amanhã”, “Sem Remorso”, entre outros, da Paramount Pictures estrearam direto na Amazon Prime. “Amor e Monstros”, do estúdio da montanha, foi para a Netflix. Os filmes da Disney, como “Capitã Marvel”, “Vingadores Ultimato”, depois do encerramento do acordo com o Telecine, foram para a Amazon por um período curto antes do lançamento do Disney+.

O mesmo ocorreu com os estúdios da companhia Sony: “Cinderela”, “Hotel Transilvânia 4”, por exemplo, foram para a Amazon Prime. O estúdio tem acordo com a HBO, mas já houve ameaça de abandonar o canal pelo não pagamento de exibição de seus títulos. Na época quase foi parar no Telecine.

Quem mais perdeu com isso tudo foi o Telecine. A partir de 2020 começou a exibir filmes menores e menos conhecidos na principal sessão de cinema: a Superestreia dos sábados à noite. A HBO fez o mesmo e não exibiu filmes considerados inéditos na TV paga em alguns sábados. Para piorar a situação, muitos filmes foram adiados inúmeras vezes, fazendo a janela do cinema para a TV dificultar a exibição de grandes títulos. A alternativa dos canais foi buscar títulos em festivais e distribuidoras, ou títulos perdidos e com menor impacto. Tanto que o Telecine criou a sessão Premiere Telecine, filmes não exibidos no cinema direto para a TV. Alguns são cults, com passagens por festivais e outros bem ruins, com tramas manjadas.



Após a maior crise da pandemia, os cinemas reabriram. Os estúdios Disney e Warner começaram a exibir simultaneamente os filmes lançados nos cinemas em seus players de streaming. O Disney+, que chegou ao Brasil em novembro de 2020, iniciou com grandes lançamentos de filmes e séries exclusivas. “A Dama e o Vagabundo” (versão live-action de 2020), “Hamilton” foram uns dos primeiros a chegar ao streaming do Mickey. Da Warner Bros  Convenção das Bruxas”, “Tenet”, “O Jardim Secreto” (nova versão), “Scooby-Doo”, “
Mulher-Maravilha 1984”, entre outros, chegaram no canal HBO junto da estreia da HBO Max.

Se é bom para os canais é ruim para os exibidores. Isso faz cair as receitas das salas de cinema. O modelo atual impacta a todos os envolvidos na cadeia: do distribuidor local, dos exibidores, das salas de cinema. Impactando também no consumo de venda de DVDs. Quem vai querer comprar um DVD que está disponível no seu streaming?

Alguns estúdios continuaram com a parceria de exibição exclusiva. É o caso da Universal Pictures, Dreamwork (da Comcast Company) e MGM com muitos títulos ainda passando no Telecine. Mesmo assim, alguns começaram neste ano a fugir do catálogo tradicional do canal: “Casa Gucci”, uma produção da Universal Pictures, MGM, Bron Studios e Scott Free, será exibido no Paramount+. Boa parte dos filmes da Paramount ainda estão sendo exibidos. “Um Lugar Silencioso: Parte II” teve a janela cinema e TV paga/streaming para o Telecine. É inevitável questionar: o Telecine vai acabar?

Isso ocorre devido a três fatores:

1 – Filmes com pouco potencial para exibição nos cinemas são vendidos para os streamings, fazendo o estúdio lucrar mais se fosse exibido nas salas de cinema, ainda mais no período da pandemia. Alguns exemplos citados acima.

2 – Para ajeitar o calendário das principais produções e deixar os menores direto para os canais de filmes e/ou streaming.

3 – O crescimento de seus próprios players de streaming para conquistar assinantes, caso da Disney+, HBO Max, Star+ e Paramount+ com exclusividade.


Do cinema para o streaming

No texto sobre o Oscar 2022, publicado na semana passada neste blog, fica evidente o movimento do cinema para o streaming de muitos filmes. Veja alguns títulos que já estão ou ainda vão estrear:

20th Century Studio:


Amor, Sublime Amor”: Star+ a partir do dia 2 de março.

O Beco do Pesadelo”: sem confirmação, pode ir para o Telecine ou Star+. Alguns títulos do Studio ainda estão sendo exibido no Telecine.

Spencer”: segue o mesmo caminho: ou Telecine, ou Star+.

Free Guy: Assumindo o Controle”: Disponível no Star+

Universal Pictures:


Belfast”: Cotado para ser exibido no Telecine. Estreia nos cinemas dia 31 de março.

Licorice Pizza”: Cotado para ser exibido no Telecine. Estreia nos cinemas dia 17 de fevereiro.

Casa Gucci”: Confirmado para ser exibido em breve no Paramount+. É o primeiro título de grande peso do estúdio fora do Telecine.

Warner Bros e Sony Pictures:


Duna”: disponível na HBO Max.

King Richard: Criando Campeãs”: Disponível na HBO Max

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”: da Sony e Marvel, o caminho natural é HBO/HBO Max. Conta quem distribui neste caso.

MGM:

Cyrano”: mesmo o Telecine ainda parceiro do estúdio, o filme pode ir para Amazon Prime, nova dona da MGM.

007 Sem Tempo Para Morrer”: Confirmado para o Telecine.

Paramount Pictures:

Um Príncipe em Nova York 2”: Disponível no Amazon Prime.


Lembrando que muitos títulos são exibidos em segunda mão nos canais e streaming. O Telecine exibe filmes da Warner e Sony há alguns anos assim que sai do catálogo da HBO. O mesmo ocorre do Telecine para HBO. E outros títulos exclusivos ainda passam em outros players como Mubi, por exemplo, caso de “Drive My Car”, confirmado pela plataforma.


Conglomerados

Os estúdios e canais não são mais os mesmos. Hoje todos pertencem a uma grande empresa por trás dos estúdios. A MGM (Metro-Goldwyn-Mayer), depois de passar por vários donos, pertence hoje a Amazon. Foi comprada por R$ 44,8 bilhões, levando todo o acervo. Na disputa estavam Comcast (dona da Universal Pictures, Focus Features, NBC) e Apple para adquirir o estúdio do leão. O acordo foi afirmado em 26 de maio de 2021.

A Warner Bros, depois da AOL e Time-Warner, a AT&T adquiriu por US$ 85 bilhões em outubro de 2016. Na última semana ocorreu a aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a fusão entre a Warner e Discovery no Brasil. No ano passado, nos EUA, houve a concretização da união das duas empresas. A partir de agora passa a se chamar Warner Bros. Discovery. Pertence ao grupo a HBO, DC, New Line Cinema, grupo Turner (TNT, CNN, Cartoon Network, etc.), Food Network, HGTV (as duas foram antes da Scripps Network comprada pela Discovery em 2017), Animal Planet, Discovery Turbo, além dos streamings HBO Max e Discovery+.

Outra grande poderosa no mundo das aquisições é a Disney Company. Tem em seus domínios o canal ABC, Lucas Ltda, Marvel Enterprises, Pixar, 20th Century Studio, Blue Sky, entre outros. A Fox, antes do empresário Rupert Murdoch (somente as empresas como Fox News e mídias jornalísticas pertencem hoje ao bilionário), foi adquirida em 2019 por US$ 71 bilhões levando os canais Fox Channel, FX, Fox Life e Fox Sports. Com o passar do tempo, mudou o nome retirando o Fox e colocando o Studio. Os canais também mudaram de nome: Star Channel, Star Life e os canais ESPN. No início deste ano, a Disney resolveu mudar o nome de todos os canais ESPN. Nem a ESPN Brasil escapou. Ficando assim: ESPN Extra (única que não mudou), ESPN (antigo ESPN Brasil), ESPN 2 (antes ESPN), ESPN 3 (antes ESPN 2) e ESPN 4 (antes Fox Sport). O Fox Sport 2 continua no ar sem mudança de nome. Agora em fevereiro acabou com os canais Star Hits 1 e 2 (serviço premium por assinatura com séries) e anunciou que irá tirar outros canais na américa latina, mas sem informar em quais países, entre eles o Disney XD, Disney Jr., Natgeo Wild, etc., lançado um único canal no lugar, o Cinecanal, exibindo filmes. Não é de hoje que a Disney acaba com produtos adquiridos. Os estúdios de cinema Hollywood Pictures e Touchstone Pictures não existem mais. A Miramax, que era do grupo, hoje pertence a beIN Media Group e ViacomCBS. A bola da vez é o grupo Fox que foi totalmente descaracterizado. Ainda pertence ao grupo o Disney+ e Star+, ambos serviços de streaming, entre outros negócios como parques, resorts, hotéis, etc.



A ViacomCBS tem em seu portfólio o estúdio Paramount Pictures, os canais MTV, VH1, Nickelodeon, The CW, CBS, BET, Pluto TV, Paramount Channel, Comedy Central, Showtime e seu streaming Paramount+, entre muitos outros canais e negócios fora da mídia de entretenimento. Também já foi parceiro da Dreamwork para distribuição de filmes. No Brasil mantem acordo com o Telecine, mas exibe alguns filmes para outros streamings como Amazon Prime e Netflix. No futuro é bem provável que seus títulos sejam exclusivos para o Paramount.


A Comcast Company é dona dos estúdios Universal Pictures, Focus Features, Working Title, Dreamworks, dos canais Universal TV, Studio Universal, Syfy, E!, USA, NBC, Telemundo, entre outros e do streaming Peacock (não disponível no Brasil), além de parques e resorts. No Brasil, a distribuição de seus canais, é feita pelo grupo Globo. Seus filmes estão no Telecine, mas já começou a desviar para outros streamings alguns títulos.



Único conglomerado de mídia totalmente brasileiro, o
Grupo Globo vem investindo pesado na sua plataforma de streaming. O Globoplay tem os mesmos conteúdos que os outros: séries, filmes, documentários, especiais musicais, biografias e novelas, que até então era a única entre os grandes a ter a teledramaturgia no catálogo (a Netflix também passou a exibir novelas do SBT e estrangeiras). Também é o único com transmissão de seus canais ao vivo. Pertencem ao grupo os canais Bis, Multishow, Globonews, GNT, Modo Viagem (canal que mudou de nome, antes Mais na Tela, que já foi Mais Globosat), Futura, três canais Sportv, Canal Viva, Canal Brasil, Gloob, Gloobinho, Canal Off, Megapix, os pay-per-views Premiere e Combate. Ainda distribui os canais da Universal TV, Syfy e Studio Universal da Comcast, as rádios CBN Rio e CBN SP também estão na plataforma. O Telecine, com seus seis canais (Telecine Premium, Action, Touch, Fun, Pipoca e Cult), uma joint ventures entre estúdios (Paramount, Universal, MGM, Dreamworks, 20th Century Studios), entrou no dia 25 de janeiro no Globoplay, incluindo o sinal ao vivo para os assinantes do combo. Antes contava com site e aplicativo próprio, perdendo um dos melhores sites de cinema, com informações que nenhuma outra plataforma de filmes continha. Também na plataforma, as transmissões da programação de todos os canais e do reality show Big Brother Brasil, de eventos esportivos como o Mundial de Surf, Olimpíadas de Tóquio, Olimpíadas de Inverno, entre outros.







Outros players nacionais também têm seu streaming, como o PlayPlus da Record TV, o Band Play do grupo Band, mas sem o mesmo alcance como a concorrente Globoplay. Ainda tem poucas empresas nacionais investindo no streaming. Redes como SBT e RedeTV! investem no YouTube e no seus sites para seus produtos. A Band tem seus canais na TV paga como Arte1, Sabor & Arte, Band Sport, Band News, Agro News e distribui o Smithsonian Channel no Brasil. Em 2016, SBT, RedeTV e Record TV se uniram para formar a Simba Content com o objetivo de distribuir seus sinais nas TV por assinatura e cobrar pelo serviço. Lembrando que os canais envolvidos são empresas de concessão pública para a TV aberta, assim como a TV Globo sem cobrança para os usuários. Apesar da aprovação da Anatel e CADE, a empresa Simba não foi para frente. Houve vários imbróglios com operadoras e processos correm na justiça.   


Futuro dos canais

Com a movimentação dos produtos indo direto para os streamings, fica a questão se os canais da TV paga vão continuar com o modelo de hoje. A exclusividade para os streamings é natural, visto o avanço de números de assinantes cada vez menores para as TVs por cabo e satélite e mais acervo abastecendo o sistema online. Sem contar que empresas como Netflix, Amazon Prime, HBO Max e Globoplay vêm investindo em aquisições e produzindo para os seus próprios sistemas. São filmes, séries, documentários, especiais musicais, biografias. Tudo para conquistar mais e mais assinantes e aumentar o número de acessos.

Mas será que os canais da TV paga vão acabar? Apesar do crescimento bem elevado dos streamings, fica difícil imaginar que a TV paga de hoje morra. O invento do rádio não acabou com os livros. O cinema não acabou com o rádio. A TV não acabou com o cinema. A TV paga não matou a TV aberta. O streaming não vai tão cedo acabar com a TV paga. Percebe-se o movimento de inventar e não deixar o que já existia acabar. Talvez o único que morreu neste caminho seja o aparelho de DVDs. Dificilmente você irá encontrar um nas lojas ou nas lojas online.

Embora as operadoras da TV paga ou TV por assinatura tenham seus sistemas online, o que pode ocorrer é a TV paga se reinventar, criar um meio de sobrevivência. Hoje com inúmeros canais, sendo a maioria pertencendo a empresas que tem seu sistema online de players no catálogo de canais das operadoras, naturalmente pode ser que a TV paga se una ainda mais ao streaming. O modelo atual de pacotes fechados, sem possibilidade de escolher os canais que o cliente realmente quer ver, tem que acabar. Fazendo diminuir os preços, que na sua maioria, são bem salgados. Com pacotes mais voltados ao streaming, pode aproximar os clientes e ganhar novos assinantes. O preço atual dos streamings varia de R$ 9,90 até R$ 55,00. Se o cliente escolher pagar um pacote contendo, por exemplo, três operadores de streaming, vai pagar menos, mesmo com taxa de adesão e cobrança de uso da internet. Exemplo: o cliente quer Globoplay (R$ 24,90 plano básico), Amazon Prime (R$ 9,90) e Netflix (R$ 55,00 plano premium) vai gastar R$ 99,80 mensal. Mas se buscar os menores preços, sem combo: Amazon Prime R$ 9,90, AppleTV+ R$ 9,90 e Paramount+ R$ 19,90: R$ 39,70 por mês. Os valores não englobam as taxas, que podem variar de uma operadora para outra.

Seja como for, o caminho para não perder assinantes mês a mês para a TV paga, é mudar seu sistema em um todo. Não dá mais para ficar preso às mesmas regras do passado, a mesma fórmula de pacotes fechados. Claro que para isso é preciso mudar a lei, regida pela Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações). Mudando tudo para a TV paga, muda também para os streamings e, porque não, para a TV aberta também. Muitas mudanças ainda estão por vir. No futuro, o que conhecemos sobre TV e entretenimento físico e online, não será como hoje.

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Imagem:

Google Imagens

Fontes: 

https://brasil.elpais.com/economia/2021-05-26/amazon-entra-em-hollywood-com-a-compra-dos-estudios-metro-goldwyn-mayer.html

https://olhardigital.com.br/2021/05/18/videos/negocio-bilionario-amazon-pode-estar-negociando-compra-do-estudio-mgm/

https://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2022/02/07/cade-aprova-a-fusao-entre-warnermedia-e-discovery.html

https://www.poder360.com.br/midia/canais-espn-e-fox-sports-mudam-de-nome-no-brasil/

 

 



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