Pluralis Mundi: Semana do Oscar: No Ritmo do Coração

Por Flávio Dias

É muito difícil uma refilmagem feita pelos norte-americanos de um filme de outro país ser melhor que o original. Aconteceu aqui com “No Ritmo do Coração”, versão dos EUA para o filme franco-belga “A Família Bélier”.

Elenco da produção de 2014

Na versão de 2014, Paula é uma adolescente que tem seus pais e irmão surdos e ela tem que lidar com os problemas da família, que vivem na fazenda. Seu pai se candidata à prefeitura da cidade e ela entra para o coral da escola, encorajada por estar apaixonada por um rapaz. O professor incentiva a se aprimorar com sua bela voz. O tom do longa europeu é de comédia. Os pais surdos são atrapalhados e arrumam problemas bobos, assim como o irmão. O desfecho não difere no aspecto geral nos dois longas.

Elenco do filme de 2021

Na versão de 2021 há comédia, mas entra o drama como protagonista da trama. A história central permanece: Ruby tem os pais e irmão surdos e tem que lidar com os desejos de uma adolescente, ajudando no píer pesqueiro da família, sonhando em ser cantora. O longa é totalmente focado em Ruby, ficando dividida entre o sonho e a família, já que ela é o centro de comunicação deles com o mundo. Assim como o filme anterior, ela entra na aula de canto por conta da paixão que sente por um rapaz da escola. O professor Bernardo Villalobos incentiva a jovem a aprimorar seus estudos de canto, dando-lhe aulas particulares.

A diretora de CODA Sian Heder

Diferentemente de “A Família Bélier”, “No Ritmo do Coração” vai mais fundo nas emoções das personagens. Os sentimentos de Ruby, as suas dúvidas de deixar a família para fazer faculdade, os conflitos com a mãe e o irmão, que aqui ganham mais peso na trama do que de 2014, são bem pontuados. Em seu segundo trabalho em um longa, o anterior foi “Tallulah” (2016), a diretora Sian Heder soube conduzir a trama para o caminho certo. O ótimo desempenho do elenco, o roteiro bem trabalhado, foi essencial para a construção do conjunto da obra. Destaque para Troy Kotsur, o primeiro ator surdo a ser indicado ao Oscar, fazendo brilhantemente Frank, pai de Ruby, com humor meio sarcástico em situações inusitadas. Não é a primeira atuação do ator. Ele já havia participado do filme “Número 23” (The Number 23, 2007), das séries “Strong Medicine” (2001), “CSI: Nova York” (2006), “O Mandaloriano” (The Mandalorian, 2019), etc. Dirigiu o longa “No Ordinary Hero: The SuperDeafy Movie” em 2013. E de Marleen Matlin como a mãe Jackie. Ela interpretou uma surda em “Filhos do Silêncio” (Children of a Lesser God, 1986), garantiu a estatueta do Oscar de 1987 de melhor atriz. Atuou ao lado de William Hurt, que morreu no dia 13 de março deste ano.

Marleen Matlin e William Hurt em
"Filhos do Silêncio"

Emilia Jones, Troy Kotsur e Marleen Matlin
em cena "No Ritmo do Coração"

A atriz Emilia Jones, a Ruby, atua desde os 9 anos. Sua primeira aparição foi “Piratas do Caribe: Navegante em Águas Misteriosas” (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, 2011), depois em séries e filmes até chegar a “No Ritmo do Coração”, seu trabalho de maior expressão, sendo indicada ao BAFTA por sua atuação. Ela ficou 9 meses aprendendo a língua dos sinais americana (cada país tem o seu), além de aula de canto e operar uma traineira de pesca. E terá ainda muito por vir, diante da janela aberta com sua participação. Ela já tem um novo trabalho: “Cat Person” ao lado de Isabella Rossellini.

A pergunta que fica é: será que o filme vai levar alguma estatueta para casa? O Oscar 2022 acontece no próximo dia 27 de março, em Los Angeles. O canal TNT transmite a cerimônia na TV paga e a Globoplay no streaming.

Curiosidades

O nome inglês CODA é a sigla da organização internacional Child of the Deaf Adults, algo como filhos de adultos surdos. Assim como no filme, os filhos ficam no meio dos pais, expostos ao mundo dos surdos e dos ouvintes. Também significa a passagem de uma música em uma composição.

O ator Eugenio Derbez (Villalobos) dublou sua própria voz na versão espanhola do filme.

Philippe Rousselet produtor dos dois longas

Três produtores estão nos dois filmes: Philippe Rousselet, Stéphane Célérier e Fabrice Gianfermi. A produtora Vendôme Pictures pertence a Rousselet.