Por Flávio Dias
No dia 09 de março a TV Globo
anunciou mudanças no calendário de suas novelas. O cronograma até então
programado para o horário das 21h depois de “Pantanal”, com estreia para o dia
28 de março, foi alterado. No lugar de João Emanuel Carneiro, entra Glória
Perez com “Travessia” com direção de Mauro Mendonça Filho.
Normal a alteração, mas o que
mais me incomodou foi o termo usado na internet: “Autor rebaixado”. Estamos em
2022, ano de forte presença das plataformas de streamings. Não é possível usar
o termo que muitos jornalistas e colunistas estão propagando. Se for assim, temos
vários autores rebaixados. Várias vezes na história da TV brasileira novelas
foram remanejadas de horários, canceladas e tiveram trocas de autores sem nunca
usarem o termo “rebaixado” (pelo menos não tenho conhecimento anteriores da
forma de uso).
João Emanuel Carneiro, autor de
sucessos como “Da Cor do Pecado”, “Avenida Brasil” e “A Favorita”, não foi e
não será o único a ter um produto na plataforma Globoplay. Outros autores já
fizeram e vão fazer produtos específicos para o streaming. O exemplo foi ao ar
no ano passado: “Verdades Secretas 2” de Walcyr Carrasco. Temos ainda para este
ano e o próximo, autores contratados para fazer novelas ou séries. Sílvio de
Abreu, que está na HBO Max, prepara uma telessérie, nome que todo mundo sabe
que é novela disfarçada. Maurício Gyboski, Tizuka Yamazaki, Emanoel Freitas,
colaboradores em várias novelas, segundo informações divulgadas na imprensa, estão
com projetos encaminhados que poderão serem aproveitados nas plataformas de
streaming, ou até mesmo para alguns canais.
Com muitos profissionais saindo
da Globo, estariam todos no mesmo termo “rebaixados”? A resposta é bem clara: NÃO. Faz parte do meio artístico buscar
novas frentes de trabalho, seja no teatro, cinema e TV. Com streamings
produzindo no Brasil, como a Netflix, HBO Max, Amazon Prime, é natural contratar
pessoal de peso para produzir conteúdo. Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos foram
para a Amazon para agregar o valor do produto nacional na plataforma, como
atores e diretores. A mesma lançou no ano passado “Dom”, série com Gabriel
Leone que já está com a segunda temporada em curso. Camila Pitanga vai estrelas
uma telessérie na HBO Max, com direção de Joana Jabace, duas ex-Globo. A
Netflix com “Cidade Invisível” com vários atores que antes estavam na Globo, com
trabalho fixo ou por obra.
Muitos outros nomes recém-saídos da
TV Globo foram para outros streamings. Ao contrário que li desde o anuncio das
mudanças divulgada pela emissora carioca, nenhum deles foram rebaixados. Apenas
estão trabalhando. Não existe rebaixamento. Não é um campeonato de futebol. O
autor João Emanuel Carneiro vai entrar na lista de novelas exclusivas para o
Globoplay, iniciada por Walcyr Carrasco. No entanto, ninguém falou que o autor
de “O Cravo e a Rosa” foi rebaixado. O motivo foi que o autor, antes confirmado
para a novela das 21h da rede, foi deslocado para o Globoplay. Ou seja, estão
querendo diminuir o trabalho do autor por estratégia de mercado da TV Globo.
Estratégia essa que poucos canais têm. Com tantos textos sendo analisados e
aprovados, a emissora está fomentando para todos os lados. Afinal, tem a TV
aberta, seus canais na TV fechada, a plataforma online para dividir todos os
textos. Cabe em cada um da maneira que eles decidirem.
Para os babacas que escrevem
textos tentando diminuir autores, atores, trabalhadores do audiovisual
brasileiro, tenho um recado: entrem para o ano 2022. O mundo mudou muito e hoje
estamos com muita diversidade de produção de mídias. Não cabe rotular “autor
rebaixado” ou qualquer outro termo do gênero. Aliás, não cabe nem chamar de “o/a
ex-global”, pois os atores, autores, assim como qualquer um, são para o mundo.
Ou seja, todos são globais, independente onde trabalhou ou não.
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