Pluralis Mundi: O Símbolo Perdido

Por Flávio Dias

A série da NBC/Universal “O Símbolo Perdido” parece ser uma boa alternativa diante de várias séries criminais e de medicina. Mas não chega a ser o melhor do universo de Dan Brown. Baseado no livro do autor de sucesso, não faz jus às obras literárias e nem aos outros filmes.

Cartaz original da série

A história conta mais uma aventura do simbologista Robert Langdon. Ele é chamado para desvendar o caso do amigo Peter Solomon, que teve a mão decepada com imagens desenhadas e um dedo apontado para cima. Terá que seguir as instruções de Mal’akh para descobrir um segredo escondido no Capitólio pelos Maçons. Para isso, conta com a ajuda de Sato, a detetive da CIA, a filha de Peter, Katherine, e do policial Nunez. Eles vão em busca de Peter e quem é o misterioso homem.

Elenco da série "O Símbolo Perdido"

A série, que antes foi cotada para ser um filme, não chega nem perto das obras de Dan Brown. Os filmes “O Código Da Vinci”, “Anjos e Demônios” e “Inferno” chegam mais próximos dos livros, embora haja adaptações, comum em qualquer obra que sai das páginas literárias para as telas. A série não tem nenhum “parentesco” com o estilo empregado por Brown, apesar de ser um dos produtores. Quase tudo está errado. A começar pela escalação dos atores. Ashley Zukerman na pele de Robert Langdon, não chega a magnitude de Tom Hanks, ator dos três filmes. Não tem carisma, a interpretação é fraca e faz cara de um ser frio, não condizente com a personagem. O mesmo para Valorie Curry (Katherine Solomon), apesar ser melhor que o protagonista. O vilão Mal’akh, vivido por Beau Knapp, até que se esforça, mas cai na mesmice da caricatura de homens fortes tatuados (da cabeça aos pés) e malvados, mas sem muita graça. Sumalee Montano, a detetive Inoue Sato, tem mistério no olhar, mas também não convence. O único ator do time principal da trama, que se sai melhor é Eddie Izzard como Peter Solomon. Mas o pior de todos é Rick Gonzalez. O policial Nunez entra no rol de piores atores para se ver na tela.

Dan Brown escritor do livro
e produtor

Ron Howard produtor da série

A culpa não está somente nos atores. Os produtores Ron Howard, Brian Grazer e Dan Brown falharam muito em não mostrar cenas chaves com muito mais suspense. Tudo ocorre direto, sem chance até mesmo de gancho entre um episódio e outro. Cenas de maior tensão, de violência, de caminhos por onde Langdon passa no livro, simplesmente foram totalmente eliminadas ou encurtadas. Tudo para caber em 10 episódios. Não há mistério. Apenas punhados de cenas sem muita emoção. Faltou principalmente direção: sem criatividade, sem apuro artístico. A trama é bem mastigada, sem fios de construção durante o período todo. Os cenários escolhidos também não ajudaram. No livro a trama passa praticamente inteira nos arredores do Capitólio, na capital dos EUA, Washington. Isso acontece mais fora do que dentro do palácio legislativo, diferentemente do livro.

Beau Knapp antes e
depois de Mal'akh

Talvez se fosse um filme de longa duração, poderia ser melhor. Ron Howard, diretor dos filmes, e Dan Brown, criador da obra, não insistiram em levar para as telonas. Sucumbiram com o fraco desempenho de “Inferno”, fazendo Sony/Columbia Pictures, produtora dos 3 filmes, a desistir da ideia. Ao migrar para a Universal Studios, também não aceitou e virou série. Em 2016, depois do lançamento do terceiro longa da obra, Dan Brown comentou o motivo de não fazer o filme “O Símbolo Perdido”: “Quer Saber? Eu respeito muito o fato de nós não temos feito isso. Nós ainda não sabemos como fazer um bom filme com ele. É um livro grande e complexo e eu acho que vamos adaptar em filme um dia. (...) É melhor levar um tempo para fazer uma coisa da maneira correta do que simplesmente lançar um filme ruim.” Acabou que fizeram uma série ruim.

Capa do livro

“O Símbolo Perdido” foi cancelado com uma temporada, mesmo deixando uma ponta final que faz supor que haveria uma continuação das aventuras de Robert Langdon. O anuncio foi feito em janeiro deste ano, 2 meses após o fim da exibição da série nos EUA. Por lá, a Peacock no streaming e a NBC para a TV aberta, exibiram a série. Aqui no Brasil está disponível no streaming Globoplay.