Pesquisar este blog

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Série: Encantado’s

Por Flávio Dias

Elenco de "Encantado's"
Foto: divulgação TV Globo


É difícil você encontrar nos streamings ou na TV uma obra com roteiro redondo, sem falhas graves, com bom elenco e uma boa história para contar. Principalmente no campo do humor. Sabemos que já tivemos boas histórias de humor na tela da TV, mas nunca com um trabalho bem acertado, com aquele gostinho de quero mais. É o que acontece com a série “Encantado’s”: roteiro, elenco, direção e produção estão super sintonizados.

As criadoras Thais Pontes e
Renata Andrade


Não é para menos. As criadoras da série Thais Pontes e Renata Andrade acertaram em cheio em colocar toda a trama do conflito entre os irmãos Olímpia e Eraldo dentro do universo do supermercado, que funciona durante o dia como Encantado Supermercado, e a noite vira a Escola de Samba Joia do Encantado’s no bairro carioca do Intendente Magalhães. Além, é claro, dos funcionários que trabalham e desfilam. Mas o grande acerto mesmo está no elenco. Não há um ator fora do compasso dessa dança. Todos estão bem e com suas personagens bem definidas.

Equipe nos ensaios da série
Foto: divulgação TV Globo


Fruto da oficina de talentos negros da TV Globo iniciada em 2018, a trama conta a história de Olímpia, vivida pela atriz Vilma Melo, e seu irmão Eraldo, o sempre excelente Luis Miranda, que assumem os negócios do pai após sua morte. Olímpia tem que comandar o Encantado Supermercado e suas dívidas e problemas. E ainda tem que segurar as loucuras do irmão que fica à frente do Joia do Encantado’s, escola de samba herdado do pai. Olímpia é pé no chão, enquanto que Eraldo é um sonhador. Ela tem que cuidar do mercado e fazer tudo funcionar perfeitamente. Já ele sonha em sair da série D para a série C, buscando um enredo para honrar os 40 anos da criação da escola de samba. No meio tem o bicheiro Madurão (Tony Ramos) que tenta tomar conta dos negócios da família.

Dhu Moraes no lançamento da série

Neuza Borges está no elenco


“”Encantado’s’ é uma comédia sobre sonhos, perseverança, fé e relações. Assinar a autoria desse projeto é um passo importante na solidificação das nossas carreiras”, afirma Renata Andrade em entrevista para o Gshow. “É uma chance de dar visibilidade não só para a gente, mas também para os universos que queremos mostrar”, acrescenta Thais Pontes. Em coletiva para a imprensa, Thais ainda questionou se daria certo a empreitada: “Eu ligava pra Renata e a gente se perguntava quais as chances de aquilo realmente acontecer. 10%? 20%? A gente não queria falar de dor, a gente não queria isso. A gente é legal sendo feliz, pô”. Na mesma coletiva, publicada no site Omelete, Luis Miranda ressaltou: “Não me interessa mais fazer preto levando tiro e fugindo da polícia. Eu não quero fazer mais isso, a gente precisa de novas narrativas”.

Tony Ramos, Vilma Melo e Luis Miranda
Foto: Divulgação TV Globo

Os jovens talentos da série
Foto: Divulgação TV Globo


Nada mais alegre e positivo como o carnaval carioca e seus desfiles da Sapucaí. Renata Andrade falou: “Trouxemos o carnaval para deixar o supermercado mais louco ainda. Mas, queríamos um carnaval do povo, sem os holofotes da Sapucaí”. A união dos dois deu muito certo, pois mostra ali que os funcionários estão ligados nos dois: o trabalho e o sonho da avenida carnavalesca. E é onde o humor encanta com boas personagens. A começar pela chegada de Pandora (Dandara Mariana), uma jovem falante e que está noiva, meio ingênua, doce e meiga. De cara encanta Flashblack (Digão Ribeiro), tímido, segurança do supermercado, mestre da bateria e não sabe como chegar em Pandora. Ele conta com a ajuda de Pedro (Dhonata Augusto), o açougueiro pegador que vive de caso com Crystal (Ludmillah Anjos), que são mestre-sala e rainha da bateria da Joia do Encantado’s. Celsinho (João Côrtes) é o locutor das ofertas do mercado e faz as coreografias da escola de samba. Ana Shaula (Luellem de Castro), a porta-bandeiras da Joia e caixa do mercado, é aquela meio mal-humorada, mas tem a verdade na ponta da língua, não aguentando certas situações. É a personagem que mais me conquistou (e muito). Não tem como não gostar de suas falas, frases derrubadoras. Ainda temos na trama Maria Augusta (Evelyn Castro) esposa de Eraldo, a filha Melissa (Ramille), o puxador da escola de samba e puxa-saco de Eraldo, Leozinho (Augusto Madeira) e Ceroto (Leandro Ramos) o capanga de Madurão. Entre os atores experientes temos grandes nomes da nossa dramaturgia: Dhu Moraes é a mãe de Olímpia e Eraldo, a dona Ponza, Neusa Borges como Tia Ambrosia e a participação de Romeu Evaristo, pai na vida real de Dandara Mariana, como um dos clientes do mercado. Várias participações ao decorrer dos episódios como Tony Tornado, Val Perré, Marcelo Médici, Luciana Paes, Caito Mainier, Marco Gonçalves, entre outros.

Sessão de estreia da série "Encantado's"
Foto: Divulgação TV Globo



Henrique Sauer, diretor artístico


Somam-se tudo isso com a produção e direção certeiras da série. O diretor Henrique Sauer contou como foi o aprendizado com as criadoras: “Sem dúvida eu tive uma sorte tremenda de poder partir das vivências da Thais e da Renata, e de poder trabalhar com os amigos como Chico (Mattoso) e o (Antônio) Prata (roteiristas da série). Essa série foi muito sobre escuta, para mim especialmente. Acho que foi sobre os encontros e sobre os afetos que tive a oportunidade de trocar, sobre as amizades, sobre uma quantidade absurda de coisas que eu pude aprender exercitar e me libertar para ser um diretor muito mais intuitivo do que racional que é o meu lugar natural”, falou durante a coletiva de imprensa publicada no site Notícias da TV. Vilma Melo fala da importância do elenco em sua maioria de pretos: “Acho que isso já é de alguma forma um legado, já é um sinal de que as coisas estão mudando e que a gente está fazendo força para que isso não seja exceção”.

Digão Riberio é Flashblack em "Encantado's"

Crystal é a personagem da atriz Ludmillah Anjos

Luellem de Castro está na série como Ana Shaula

Dandara Mariana é Pandora

Celsinho, o locutor do mercado vivido por João Côrtes


É não será exceção. Outros produtos já estão conscientes da importância de mais protagonistas, de mais pretos no audiovisual brasileiro. Produções como “Todas as Flores” da Globoplay, com boa quantidade de atores pretos, e a próxima novela das 19h “Vai na Fé” da TV Globo, que tem Sheron Menezzes como protagonista, estão neste caminho. E que terá muito mais talentos pretos e pretas nas nossas telas, sejam na TV aberta, na TV fechada, nos telejornais, nos streamings, nos filmes, nas séries, etc. É o caminho que precisamos ir, pois talentos não se desperdiçam só por causa da cor da pele. E “Encantado’s” é prova evidente que talentos do passado e do presente, como jovens atores, podem fazer grandes trabalhos, grandes obras da nossa cultura e arte, sem deixar de lado as questões raciais, de preconceito enfrentados todos os dias no nosso país e no mundo. Exemplos não faltam na série como uma cliente branca perguntando para Olímpia se tem lápis cor da pele. No caixa a cliente branca perguntando para Ana Shaula do cabelo e como ela lava. As respostas são porradas no racismo estrutural da nossa sociedade.

Cena da série da Globoplay
Foto: Divulgação TV Globo

Eu quero me emocionar, rir, me encantar, chorar, discutir, aplaudir, criticar, amar, odiar, festejar, detestar, vibrar, arrepiar, empolgar, assustar... com boas histórias, novas tramas, não importando com a cor da pele dos atores. Eu quero é um audiovisual para todos, para todas, para todes. Afinal, sem arte e cultura não tem como viver. Viva o nosso audiovisual. Viva nossos talentos brasileiros.  




 



 


Ficha Técnica:

Título: Encantado’s

Data de Estreia: 18 de novembro de 2022

Gênero: série de humor

Episódios: 11

Duração: 363 minutos no total (média de 33 minutos cada episódio)

Criadas por: Renata Andrade e Thais Pontes

Roteiro: Antônio Prata, Chico Mattoso, Renata Andrade, Thais Pontes

Direção Artística: Henrique Sauer

Direção dos Episódios: Deo Cardoso, Naína de Paula

Elenco: Vilma Melo, Luis Miranda, Tony Ramos, Augusto Madeira, Dandara Mariana, Dhonata Augusto, Dhu Moraes, Digão Ribeiro, Evelyn Castro, João Côrtes, Leandro Ramos, Ludmillah Anjos, Lidiane Ribeiro, Luellem de Castro, Neusa Borges, Ramille, Romeu Evaristo

Produção: Globoplay, TV Globo

Disponível: Globoplay

 

Fontes:

https://gshow.globo.com/tudo-mais/pop/noticia/tony-ramos-e-luis-miranda-estao-em-encantados-serie-original-globoplay.ghtml

https://www.omelete.com.br/series-tv/encantados-desfila-na-passarela-do-grupo-especial-do-globoplay

https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/series/globo-tenta-se-redimir-de-erros-do-passado-em-serie-com-elenco-negro-legado-92856

https://globoplay.globo.com/encantado's/t/2LHnHfBfn5/

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/12/04/serie-encantados-do-globoplay-nasceu-em-oficina-para-roteiristas-negros-conheca-a-historia.ghtml 

Imagens:

Google imagens

Divulgação TV Globo

Gshow

 

Vídeo:

YouTube

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Escola Base: uma aula de jornalismo

 Por Flávio Dias



Março de 1994: uma acusação de abuso sexual em uma escola infantil entra no maior telejornal do Brasil, o Jornal Nacional da TV Globo, para noticiar os fatos ocorridos no bairro Aclimação, em São Paulo. A notícia em primeira mão do repórter Valmir Salaro dava como certo que a Escola Base tinha os seus donos e funcionários abusado sexualmente de crianças. As denúncias foram feitas pelas mães e desencadeou um grande desastre na vida dos acusados e do jornalismo brasileiro.

O jornalista Valmir Salaro no
lançamento do documentário


Essa é a história contada no documentário da Globoplay “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado”, que estrou na última semana. Valmir Salaro, com mais de 40 anos no mundo do jornalismo, faz uma mea-culpa sobre o ocorrido naquele fato que mudou a vida do casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, dos seus funcionários a professora Paula Milhim e o esposo, motorista da van escolar Maurício Alvarenga e do jornalismo em um todo. O caso teve repercussão nacional.



Notícias dos jornais da época do caso

No documentário, Valmir Salaro e Alan Graça Ferreira vão em busca dos envolvidos no caso para conversar e se desculpar pela falta de ouvi-los na época. Boa parte deram depoimentos para o documentário, mas infelizmente outra parte não quiseram falar ou já estavam mortos.

Valmir Salaro em 1994


A coragem de levar o caso para a tela em formato de documentário tem que ser muito elogiada. Mas Salaro já faz isso há anos em palestras para estudantes de jornalismo. Dá para sentir nas cenas que realmente ele errou em dar a informação sem ouvir os dois lados, apesar que a culpa maior foi da investigação frágil da delegacia, que não apurou o caso da forma correta e acreditando nas palavras dos denunciantes e de crianças, das provas coletadas. Tudo foi uma sucessão de erros.

O filho Ricardo Shimada e Valmir Salaro

Paula Milhim e Salaro


“Escola Base” chegou em um excelente tempo, em uma época de explosão de fake news pelo Brasil e o mundo. Nada mais corajoso de levar uma produção para dizer com todas as palavras que errou, que sente o peso da destruição de pessoas inocentes, de vidas que para sempre lembrarão do fato, incluindo Valmir Salaro, que não deixou esquecer essa triste história da sua vida pessoal e profissional.

Os inocentes acusados

E por que é importante falar do caso Escola Base? Por muitos motivos. Vendo hoje vários jornalistas entrando em ondas de notícias falsas, vendendo seu caráter para apoiar políticos, empresários e todo um esquema de enganar as pessoas, Salaro mostra que é preciso sim levantar a cabeça e falar para todos que o que se fez não condiz com toda a verdade. Ainda mais no jornalismo, onde é pregado que a verdade das informações são prioridade para um bom jornalismo. Enfrentar o passado, suas angustias, o sofrimento interno por não ter feito o correto, fez o jornalista encarar o fato cara a cara com mais profundidade, algo além das palestras nos cursos de jornalismo.

Mas a pergunta que fica no ar: será que os jornalistas que hoje espalham notícias falsas vão vir a público dizendo “eu falhei”, ou vão esconder de todos tudo que fizeram? Essa é uma resposta que não pode demorar mais de 20 anos. Sabemos que a responsabilidade ética e profissional um dia chega para os espalhadores de notícias falsas. Valmir Salaro há anos sabe que precisava dividir esse gosto amargo. Resta saber se outros vão seguir o jornalista e vir a público, visto que o caso Escola Base, foi o único até então, a falar dos seus erros. Só o futuro, que seja bem breve, vai nos responder.

Os diretores Caio Cavechini e Eliane Scordovelli


“Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” é dirigido por Caio Cavechini e Eliane Scardovelli, os mesmo de “Cercados: A Imprensa contra o Negacionismo na Pandemia” e “Marielle: O Documentário”, ambos de 2020. Roteiro de Bruno Della Latta e Eliane Scordovelli com reportagem de Alan Graça Ferreira e Valmir Salaro. Disponível exclusivamente na Globoplay.

 

Ficha Técnica

Título: Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado

Direção: Caio Cavechini e Eliane Scardovelli

Roteiro: Bruno Della Latta e Eliane Scardovelli

Reportagens: Alan Graça Ferreira e Valmir Salaro

Duração: 106 minutos (1 hora e 46 minutos)

Produção, Distribuição, Disponível: Globoplay

 








Fontes e textos que podem interessar:

https://globoplay.globo.com/escola-base-um-reporter-enfrenta-o-passado/t/DgP8Dccp5s/

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/11/13/reporter-relembra-cobertura-do-caso-escola-base-em-documentario-acho-importante-falar-sobre-o-erro.ghtml

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2022/11/11/escola-base-como-noticia-falsa-de-pedofilia-mudou-a-vida-de-jornalista.htm

https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/reporter-da-globo-faz-mea-culpa-em-doc-que-desenterra-caso-escola-base/

https://www.uol.com.br/splash/colunas/fefito/2022/11/12/doc-da-escola-base-mostra-que-falta-a-acusadores-a-coragem-de-valmir-salaro.htm

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2022/11/13/valmir-salaro.htm

https://canalcienciascriminais.com.br/caso-escola-base/

https://canalcienciascriminais.com.br/das-telas-do-cinema-a-vida-real-depoimento-infantil-e-falsas-memorias/

https://www.terra.com.br/diversao/entre-telas/reporter-da-globo-revisita-erro-da-carreira-em-documentario-que-chega-ao-streaming,3a46b3884159e3ea288eefa75ab23e6d7dzc6gbc.html


Fotos e imagens

Google fotos

Vídeo trailer:

YouTube

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Blonde

Por Flávio Dias

Marilyn Monroe e Ana De Armas


Estreou em 28 de setembro o mais novo filme sobre Marilyn Monroe: “Blonde”. Não é novidade falar sobre a estrela de Hollywood dos anos de 1940 e 1950. Desde sua morte vários filmes e documentários exploraram (e exploram) quem foi a artista que encantou o mundo com sua beleza e arte. Muitas das histórias contadas passam pelo mito do que realmente aconteceu no dia da sua morte em 4 de agosto de 1962: ela se suicidou ou foi morta? Entre a realidade e as conspirações envolvendo políticos, o mistério está longe de acabar.

Diretor Andrew Dominik em cena de "Blonde"

Livro que inspirou o filme

O filme de Andrew Dominik (de “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” e “O Homem da Máfia”) para a Netflix, produzido por Brad Pitt (que está nos filmes citados acima) da sua produtora Plan B, mostra a infância de Norma Jean Mortenson (Lily Fisher) com sua mãe Gladys (Julianne Nicholson) em Los Angeles durante seu aniversário, onde um incêndio florestal se alastra pela Califórnia. Da loucura da mãe, sem saber quem é seu pai, acreditando ser um astro de Hollywood. Depois desse início entre cores, vem o preto e branco na tela, separando, ao que tudo indica, o real do ficcional, uma maneira de mostrar quem foi Norma Jean e quem foi Marilyn Monroe, deixando de lado a biografia exata. Durante os 166 minutos (2 horas e 46 minutos), Dominik tenta transparecer quem foi a artista e os fatos que lhe marcaram. Mas tudo leva a crer em falsa realidade dos fatos. Mesmo porque, o longa é baseado no livro de Joyce Carol Oates, uma história nada oficial sobre Marilyn/Norma. Mas não tira o brilho do filme. Pelo contrário: mostra tantas Marilyns representadas diante do machismo, assédios, abusos e transtornos diante de poderosos produtores e homens que cercam as carreiras das mulheres no cinema e na TV.

Adrien Brody como Arthur Hiller

Bobby Cavanale como Joe DiMaggio

Dos fatos ocorridos, como os casamentos com o jogador de Beiseball Joe DiMaggio (Bobby Cannavale) e Arthur Hiller (Adrien Brody), do conflito entre a atriz e o diretor Billy Wilder (Ravil Isyanov), do seu envolvimento com o presidente John Kennedy (Caspar Phillipson), a maior parte do filme são idealizações sobre quem foi Norma Jean. O ficcional é o palco para discussões, diferente de outras películas sobre a atriz. Aqui cabe explorar como Hollywood comanda a indústria diante das mulheres. Cenas fortes como um produtor estuprando ela; seu primeiro marido DiMaggio espancando; o segundo marido Hiller escrevendo todas as frases dela, em uma espécie de musa inspiradora; etc. Isso vale não só para as estrelas de Hollywood: vale para todo o mundo. Queiram ou não, é um mundo ainda comandado por homens. Que o diga Harvey Weinstein, o produtor da The Weinstein Company preso por assediar e abusar de atrizes em início de carreira. O movimento #MeToo o levou para o banco dos réus tardiamente, mas condenando para sempre e trazendo mudanças na maior indústria do entretenimento mundial.

Para contar uma história poderosa, Andrew Dominik soube dirigir cada cena, principalmente com Ana De Armas vivendo Marilyn Monroe/Norma Jean. A atriz de “Entre Facas e Segredos”, “Blade Runner 2049” e “007 Sem tempo para Morrer” brilha em cada cena. A caracterização ficou perfeita. Cenas como do filme “Quanto Mais Quente Melhor” simplesmente dá para confundir quem está ali: Ana ou Marilyn? A montagem sobreposta é uma das melhores que já vi. Inclusive usam os atores da época (e creditados no final) dos filmes em cenas, utilizando bem pouco atores de hoje encenando em cima. Neste caso, somente Ana é utilizada predominantemente. A fotografia colaborou para um bom efeito na TV. Nada parece ser desperdiçado. Mas por vezes, pelo longo tempo, o filme fica cansativo demais. Poderia sim ter pelo menos 30 minutos cortados, ou reeditados para não cansar os telespectadores dos transtornos, das dores físicas e mentais, da dubiedade da artista.

Julianne Nicholson em "Blonde"


Destaque para Julianne Nicholson, vivendo Gladys, mãe de Norma. Em uma pequena participação que pode dar indicações a prêmios como o Oscar, Globo de Ouro, Bafta. O mesmo para Ana De Armas, em sua melhor interpretação. As duas merecem.



Para quem não conheceu a atriz Marilyn Monroe, a Netflix também estreou o documentário “O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas”. Já os seus filmes estão espalhados nos streamings. Curiosamente não há filmes de Marilyn na Netflix, fato corriqueiro na plataforma: não ter filmes clássicos dos anos 1940 até os anos 1980. A maioria estão no Star+, Telecine, em alugueis ou compras no Looke, Google Play, Amazon Prime Vídeo, AppleTV+, entre outros. Também vários filmes sobre a atriz como “Marilyn e Eu” (1991), “A Verdadeira História de Marilyn Monroe” (1996), “Sete Dias com Marilyn” (2011), etc. Documentários, shows e até clipes como da Madonna, foram feitos. Marilyn Monroe com certeza não será esquecida tão facilmente.




Ficha Técnica:

Título Original: Blonde

Direção: Andrew Dominik

Roteiro: Andrew Dominik, Joyce Carol Oates (baseado no seu livro)

País: EUA

Duração: 166 minutos (2 horas e 46 minutos)

Produtora: Plan B Entertainment

Distribuidor e disponível: Netflix







segunda-feira, 25 de julho de 2022

Os melhores filmes do Festival do Rio no Telecine

Por Flávio Dias


Acabou o Festival do Rio no Telecine 2022. Durante 10 dias foram exibidos bons filmes de vários países. Todos de qualidade, roteiros, direção e atuações, se não perfeitas, não deixaram a desejar. Pelo contrário: suas personagens foram bem condizentes com as tramas apresentadas. Um detalhe interessante: dos 9 filmes, somente 1 não tem o diretor como roteirista. A maioria também são produções independentes, fora do eixo de grandes produtoras e estúdios. 



O Telecine poderia trazer mais festivais no seu streaming. No ano passado o Festival do Rio no Telecine trouxe 15 filmes (confira a lista de 2021 abaixo) no mesmo nível de qualidade desde ano. Todos estão disponíveis no streaming do Globoplay. Pode ser festival com filmes brasileiros, de um país específico, um tema. Um por mês estará bom demais para os amantes do cinema. O mesmo para outros canais do grupo Globo, como o Canal Brasil. Mas é uma felicidade ter um streaming fazendo um especial como foi o Festival do Rio para todos os assinantes. Vale muito a pena.



Confira a lista do melhor para o menos melhor, pois não houve filme totalmente ruim. A indicação é por estrelas de 5 a 3 e que eu considero o melhor de todos.

 

5 Estrelas:

3 filmes entraram para a categoria dos melhores do Festival do Rio no Telecine. “A Felicidade das Pequenas Coisas” foi o melhor, seguido de “Blue Bayou” e “O Salão de Huda”. Imperdíveis, com direções e roteiros excelentes, além de atuações na medida certa para as tramas apresentadas.

A Felicidade das Pequenas Coisas ⭐⭐⭐⭐

Ugyen, um professor do Butão, é enviado para uma vila no Himalaia. Desafiado a lecionar sem nenhuma estrutura, ele percebe que tem muito a aprender com os moradores de lá.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional 2022.

Título Original: Lunana: A Yak In The Classroom

Direção: Pawo Choyning Dorji

Roteiro: Pawo Choyning Dorji

Gênero: Drama, Aventura

País: Butão, China

Ano: 2019

Duração: 110 minutos

Produção: Dangphu Dingphu, Huanxi Media Group

Distribuição Brasil: Pandora Filmes

Disponível: Telecine / Globoplay


Blue Bayou ⭐⭐⭐⭐

Antonio LeBlanc é coreano-americano criado em Bayou. Quando descobre que pode ser deportado do país, ele terá de encarar os fantasmas de seu passado.

Título Original: Blue Bayou

Direção: Justin Chon

Roteiro: Justin Chon

Gênero: Drama

País: Estados Unidos, Canadá

Ano: 2021

Duração: 117 minutos

Produção: Entertainment One, MACRO

Distribuição Brasil: Universal Pictures

Disponível: Telecine / Globoplay

 

O Salão de Huda ⭐⭐⭐⭐

Reem vê sua vida se transformar após uma visita ao salão de beleza de Huda. Exposta em uma situação íntima e chantageada pela dona do lugar, ela agora corre perigo.

Título Original: Huda’s Salon

Direção: Hany Abu-Assad

Roteiro: Hany Abu-Assad

Gênero: Suspense

País: Egito, Países Baixos, Território Palestino Ocupado

Ano: 2021

Duração: 91 minutos

Produção: H&A Productions, Cocoon Films, Doha Film Institute, Film-Clinic, KeyFilm, Lagoonie Film Production, MAD Solutions, Philistine Films

Distribuição Brasil: não encontrado

Disponível: Telecine / Globoplay

 

 

4 Estrelas:

Noites de Paris”, “Rabiye Kurnaz Vs. George W. Bush” e “O Contador de Cartas” não fogem as regras de boas direções, roteiros e atuações, mas ficaram um pouco abaixo do esperado. Mesmo assim são ótimas opções de bom cinema.


Noites de Paris ⭐⭐⭐⭐

Elisabeth tem dois filhos jovens, e está passando pelo divórcio. No primeiro emprego, ela conhece Talulah e cria uma conexão materna, acolhendo a menina na família.

Título Original: Les Passagers de la Nuit

Direção: Mikhaël Hers

Roteiro: Maud Ameline, Mariette Désert, Mikhaël Hers

Gênero: Drama

País: França

Ano: 2022

Duração: 111 minutos

Produção: Nord-Ouest Films, Arte France Cinéma, Canal+, Ciné+

Distribuição Brasil: MK2 Films

Disponível: Telecine / Globoplay

 

Rabiye Kurnaz Vs. George W. Bush ⭐⭐⭐⭐

Rabiye Kurnaz é uma mãe turca-alemã e está determinada a lutar pela liberdade de seu filho, que foi acusado pelo governo norte-americano de terrorismo.

Título Original: Rabiye

Direção: Andreas Dresen

Roteiro: Laila Stieler

Gênero: Drama

País: Alemanha, França

Ano: 2022

Duração: 119 minutos

Produção: Cinéma Defacto, Iskremas Filproduktion, Pandora Filmproduktion

Distribuição Brasil: não encontrado

Disponível: Telecine / Globoplay

 

O Contador de Cartas ⭐⭐⭐⭐

William Tell é um ex-interrogador militar que se torna um jogador de cartas e agora é assombrado por fantasmas de suas decisões do passado.

Título Original: The Card Counter

Direção: Paul Schrader

Roteiro: Paul Schrader

Gênero: Policial, Drama, Suspense

País: Estados Unidos, Reino Unido, China, Suécia

Ano: 2021

Duração: 111 minutos

Produção: Focus Features, LB Entertainment, Astrakan Fim AB, Bona Film Group, Convergent Media, HanWay Films, Enriched Media, On Two Twenty Entertainment, Redine Entertainment

Distribuição Brasil: Universal Pictures

Disponível: Telecine Globoplay

 

3 Estrelas:

4 filmes entraram para a categoria de bons, mas não excelentes, apesar da qualidade apresentada. “Arthur Rambo: Ódio nas Redes”, “Olga”, “O Pai da Rita” e “A Última Noite” deixaram uma sensação que faltava algo para serem realmente muitos bons. As tramas em si de cada um têm suas especificidades, mas não tem evoluções cinematográficas como os outros da lista.

 

Arthur Rambo – Ódio Nas Redes ⭐⭐⭐

Karim D. é um jovem escritor de sucesso. Quando seu passado como Arthur Rambo, um perfil com mensagens de ódio vem à tona, ele deve enfrentar duras consequências.

Título Original: Arthur Rambo

Direção: Laurent Cantet

Roteiro: Fanny Burdino, Laurent Cantet, Samuel Doux

Gênero: Drama

País: França

Ano: 2021

Duração: 87 minutos

Produção: Les Films de Pierre, France 2 Cinéma, Memento Films, CNC, France, Télévisions, Canal+, Ciné+

Distribuição Brasil: Vitrine Filmes

Disponível: Telecine / Globoplay

 

Olga (2021) ⭐⭐⭐

Olga é uma jovem ginasta ucraniana exilada na Suíça. O desgaste dos treinos e a recente revolução em seu país fazem com que o clima de tensão aumente em sua vida.

Título Original: Olga

Direção: Elie Grappe

Roteiro: Raphaëlle Desplechin, Elie Grappe

Gênero: Drama

País: Suíça, França, Ucrânia

Ano: 2021

Duração: 85 minutos

Produção: Point Prod, Cinémadefacto, Canal+, Ciné+, CNC, Pulsar Content, RTS

Distribuição Brasil: Não encontrado

Disponível: Telecine / Globoplay

 

O Pai da Rita ⭐⭐⭐

A amizade de Roque e Pudim é posta à prova com a chegada de Ritinha, filha da mulher que ambos amaram na juventude. Com ela, vem a questão: quem é o pai da garota?

Título Original: O Pai da Rita

Direção: Joel Zito Araújo

Roteiro: Joel Zito Araújo, Di Moretti

Gênero: Comédia

País: Brasil

Ano: 2021

Duração: 97 minutos

Produção: Casa de Criação

Distribuição Brasil: O2 Play

Disponível: Telecine / Globoplay

 

A Última Noite ⭐⭐⭐

Nell e Simon organizam um jantar de Natal para seus amigos próximos. Entretanto há uma catástrofe ambiental assolando o mundo e esse jantar será a última noite de suas vidas.

Título Original: Silent Night

Direção: Camille Griffin

Roteiro: Camille Griffin

Gênero: Comédia, Drama

País: Reino Unido

Ano: 2021

Duração: 92 minutos

Produção: Marven Screen Media, Marv Films

Distribuição Brasil: Paris Filmes

Disponível: Telecine / Globoplay

 




Confira a lista dos 15 filmes do Festival do Rio no Telecine 2021, exibido entre os dias 17 de julho a 31 de julho. Foram 2 filmes com 5 estrelas, 4 com 4 estrelas e 9 com 3 estrelas. A ordem está do melhor de 5 para 3 estrelas. Todos os filmes estão disponíveis no Telecine.

 


Edifício Gagarine ⭐⭐⭐⭐

Youri é um rapaz que mora em um conjunto habitacional e sonha em ser astronauta. Mas o prédio corre o risco de demolição e os moradores de serem despejados.

Tudo perfeito neste filme francês sobre um conjunto habitacional com o nome do astronauta Youri Gagarin, o primeiro homem a viajar para o espaço em 1961. O edifício Gagarine realmente existiu e no longa tem imagens de arquivos do prédio no subúrbio de Paris. Os diretores Fanny Liatard e Jérémy Trouilh usam muito bem a câmera focada no sonho do rapaz e no prédio como se fosse uma filmagem espacial. Ao mesmo tempo fazem uma crítica a demolição de prédios que bastariam apenas reformar, sem precisar deslocar os moradores para outros locais. Muitos não têm nem para onde irem.

Como cinema é belíssimo, com ótima direção, roteiro e bons jovens atores nos papéis principais.

 



Ainda Há Tempo ⭐⭐⭐⭐

John (Viggo Mortensen) mora na Califórnia com o marido e sua filha, longe da vida da fazenda da família. Mas quando o pai Willis (Lance Henriksen) começa a apresentar sinais de demência, decide vender a casa e trazer o pai para a cidade. Willis se recusa a quebrar vários preconceitos e a lidar com a homossexualidade do filho.

O ator indicado 3 vezes ao Oscar e ao Bafta e 4 vezes ao Globo de Ouro, faz uma excelente estreia na direção, além de roteirizar, produzir e fazer a produção musical. É um filme sensível num embate entre filho e seu pai doente. John tem a paciência na intolerância e amargura do pai Willis, um preconceituoso e teimoso com as questões da vida. Lance Henriksen em um excelente trabalho como nunca antes visto na tela. O ator geralmente faz mais filmes sem muito impacto de atuação. O longa mostra a infância e adolescência de John com o pai, em uma forma de descobrir de onde vem tanta dor. No elenco ainda tem Laura Linney, Terry Chen e Sverrir Gudnason.

 



Dias Melhores ⭐⭐⭐⭐

A adolescente Chen Nian estuda para passar no concorrido vestibular na China. No entanto, convive com o bullying de colegas. A jovem encontra Xiao Bei, um desajustado jovem que vai ajudar como seu protetor.

Hoje o bullying é um grande mal para a infância e juventude. E não importa onde você mora. O filme trata de maneira as vezes cruel e ao mesmo tempo dosa com delicadeza. De qualquer forma, o diretor Derek Tsang consegue passar a mensagem: o bullying deixa marcas e consequências.

Há cenas fortes com jovens atores. O destaque vai para as ótimas interpretações de Zhou Dongyu e Jackson Yee. Eles conseguem passar emoção com suas personagens em um tema necessário. Indicado ao Oscar 2021 de melhor filme estrangeiro.

 



Druk: Mais Uma Rodada ⭐⭐⭐⭐

Um grupo de amigos faz uma experiência com uma quantidade de álcool que poderá alcançar resultados positivos e negativos em suas vidas. E aos poucos aumentam a dose diariamente.

A proposta do ganhador do Oscar 2021 de filme estrangeiro é interessante, mas ao mesmo tempo perigosa. Os 4 amigos na faixa de idade dos 50 anos na verdade querem apenas recuperar a juventude através da bebida, tendo sensações novas para uma vida já sem muitas novidades. A direção de Thomas Vinterberg é muito boa e o elenco está em boa sintonia. Mads Mikkelsen fica melhor em filmes independentes do que em grandes filmes comerciais de Hollywood.

 



A Boa Esposa ⭐⭐⭐⭐

Paulette e seu marido dirigem uma escola que educa adolescentes para serem esposas e donas de casa. Quando o marido morre, descobre que a escola está a beira da falência e fará de tudo para contornar a situação. Com a efervescência social de 1968, faz com que que ela e suas alunas repensem suas crenças e ideias.

O filme de Martin Provost foca na sociedade dos anos 60 e a revolução feminina através da escola de boa esposa. O trio de atrizes brilham nesta comédia com tom crítico pelos direitos das mulheres. Juliette Binoche como Paulette, a orientadora da escola; Yolande Moreau, sua cunhada Gilberte e Noémie Lvovsky a freira controladora mal-humorada conduzem muito bem suas personagens. E também mostra que as jovens alunas não querem ficar presas em um casamento. O final do filme vem com uma mensagem cantada bem atual.

 



Quo Vadis, Aida? ⭐⭐⭐⭐

Aida Selmanagic é uma tradutora que trabalha em uma missão da ONU na cidade de Srebrenica. Quando a região é dominada pelo exército sérvio, milhares de cidadãos buscam abrigo no acampamento onde ela trabalha. Enquanto lida com as negociações que envolvem o conflito diplomático, Aida fará de tudo para tirar a família do meio do fogo cruzado.

O conflito na Bósnia entre 1992 a 1995 dividiu a região criando novos Estados nações. Foi um período de milhares de mortes, estupros e erros por parte da Otan e ONU. Tudo por controle de regiões, por política e divisão étnicas.

Quo Vadis em latim significa para onde vais. O filme mostra Aida fazendo de tudo para não separar e salvar a família, ao mesmo tempo que trabalha com tradutora e tentando entender os movimentos do conflito. Também o longa deixa claro os erros nas negociações da ONU com o General Mladic, permitindo a retirada dos milhares de civis do acampamento.

É um filme denso, com atuação perfeita de Jasna Djuricic. Indicado a filme estrangeiro no Oscar e no Bafta, sendo que também indicado ao último para direção de Jasmila Zbanic.

 



Bela Vingança ⭐⭐⭐

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal-intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la.

A sinopse acima é promissora como o título original: "Promising Young Woman" ou jovem promissora. O filme ganhador do Oscar 2021 de melhor roteiro original de Emerald Fennell não é perfeito. O problema está no meio da trama: a mulher encontra um homem e passa praticamente a esquecer sua vingança, mas descobre que ele fez parte de um evento do passado. É tão comum como qualquer outro filme onde o tema é a vingança, que quase acaba com todo o roteiro. Felizmente a direção e a boa atuação de Carey Mulligan salvam do desastre, diante do resto do elenco bem abaixo do esperado. Principalmente por se tratar de assédio e abuso com as mulheres. O final do longa surpreende.

 



O Mauritano ⭐⭐⭐

A história real de Mohamedou pela liberdade após ficar preso no campo de Guantánamo por anos por ter uma suposta ligação com o atentado de 11 de setembro de 2001. A advogada Nancy Hollander entra no caso para ajudá-lo.

Dirigido por Kevin MacDonald, o longa com 5 indicações ao Bafta e 2 no Globo de Ouro, sendo vencedor na categoria de melhor atriz para Jodie Foster, mostra a crueldade na prisão localizada em Cuba e a luta para liberdade de presos sem provas de acusações. O filme é meio lento no início, mas tem cenas fortes de tortura. O elenco, além de Foster, conta com Tahar Rahim, Shailene Woodley, Benedict Cumberbatch.

 



Noite de Reis ⭐⭐⭐

Um jovem criminoso é transferido para a prisão La Maca na Costa do Marfim, dominada pelos detentos. O rapaz submete-se a um ritual da lua vermelha. Para sobreviver, ele deve contar uma história que vai da noite ao amanhecer.

Filmes sobre presídios sempre são complicados. Já vem à cabeça violência extrema e mortes. Violência tem e mortes também, porém mais leve do que esperado. Mas aqui o fato maior é do jovem vivido por Bakary Koné. Ao chegar na prisão o "dono" do local Barba Negra (Steve Tientcheu), doente e acreditando que vai morrer, denomina o jovem o Roman, o homem que terá que contar uma história até o amanhecer. As boas atuações e a direção de Philippe Lacôte entregam um bom resultado. O longa africano faz bonito. E como é raro ver filmes africanos nos streamings e na TV. Curiosidade: é citado "Cidade de Deus", filme brasileiro conhecido pelo mundo. Indicado a prêmios internacionais como melhor filme estrangeiro como no Independent Spirit Award e Festival de Veneza.

 



Verão de 85 ⭐⭐⭐

No verão de 85, Alexis vive na costa da Normandia, quando é salvo pelo jovem David. Os dois rapidamente desenvolvem uma amizade que transforma Alexis.

A trama começa com um suspense sobre a morte de alguém e desenvolve para a história contada por Alexis, vivido por Félix Lefebvre e seu mais que amigo David (Benjamin Voisin). É um romance homoafetivo bem dirigido por François Ozon, com a produção bem pontuada nos anos 80, incluindo músicas da época. Os jovens atores atuam bem e o roteiro é agradável.

 



A Candidata Perfeita ⭐⭐⭐

Em uma pequena cidade saudita, a jovem médica Maryan Alsafan (Mila Al Zahrani) decide se candidatar às eleições municipais com o objetivo de trazer melhorias para a clínica onde trabalha. Entretanto, ela terá que lidar com seu impacto na cultura conservadora do local, que afetará não só a ela, mas também a sua família.

Em um país como a Arábia Saudita onde as mulheres não têm seus direitos igualitários, ter uma mulher nas decisões de uma região é muito difícil. No caso do filme, Maryan se candidata para melhorar o acesso ao hospital, com água e lama para entrar com os pacientes. Mesmo enfrentando os homens, impacta na vida da família, inclusive mudando o pensamento e ideias das irmãs. O longa tem bom ritmo e atores na medida certa para o tema. A direção é de Haifaa Al-Mansour. Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2019.

 



DNA ⭐⭐⭐

Neige é uma mulher divorciada que possui uma relação muito forte com seu avô argelino Emir. Quando ele morre, se vê diante de uma grande instabilidade dentro da família enquanto lida com sua própria crise de identidade.

Dirigido e estrelado por Maïwenn, o filme mostra os conflitos na família depois da morte do avô considerado uma grande personalidade por sua história de vida e luta. O início do longa chega bem próximo da vivência diante da perda de um parente, principalmente em uma família numerosa: brigas, apoio, conflitos, ideias, amizades, etc. A personagem Neige vai em busca das suas raízes argelinas, cujo avô participou dos eventos da independência. A Argélia é um país africano que foi por anos possessão francesa, conquistando a independência em 1962. Um bom filme de drama, bem roteirizado e dirigido.

 



Caros Camaradas! Trabalhadores Em Luta ⭐⭐⭐

Em 1962, uma devota executiva do partido comunista, está convicta de que seu trabalho criará uma nova sociedade. Mas depois de um massacre de trabalhadores em greve e do desaparecimento da filha, sua visão de mundo começa a ruir e questiona suas crenças.

O filme russo de Andrey Konchalovskiy é uma crítica sobre a política e o socialismo na era da guerra fria da União Soviética. Ao mesmo tempo questiona o que mudou na Rússia dos dias atuais. O ponto forte do filme é a fotografia em preto e branco. Concorreu ao Bafta de filme estrangeiro.

 



Slalom: Até O Limite ⭐⭐⭐

Lyz é uma jovem e determinada atleta de esqui que se junta a equipe do técnico Fred. A intensidade e a constante pressão afetam o psicológico e a performance da atleta.

A grande questão do longa francês está na paixão da jovem e nos abusos do técnico, psicologicamente e sexualmente. O desejo de vencer, não só da jovem, mas também obstinadamente do técnico, faz ela aceitar os abusos, tentando se concentrar nos treinos para o grande campeonato.

O ponto forte é a direção e a fotografia nas montanhas congeladas. Mas faltou maior intensidade sobre o tema dos abusos nos esportes.


 


De Volta À Itália ⭐⭐⭐

Em De Volta à Itália, Robert (Liam Neeson), um artista boêmio, viaja de Londres para a Itália com seu filho Jack (Micheál Richardson) para vender a casa que herdou de sua falecida esposa.

Até aqui é o filme mais fraco do Festival do Rio. Parece mais um déjà vu de outros longas com o mesmo tema: pai e filho não se relacionam e voltam a se encontrar na Itália. O filho se apaixona por uma mulher. Aliás, a casa na Toscana já foi vista em outros filmes como "Um Bom Ano" e "Cartas para Julieta". A grande novidade foi ver Liam Neeson sem armas em punho, em meio a lutas pirotécnicas e não sendo perseguido ou perseguindo, algo bem comum em muitos anos.
Resumo: um filme bonzinho.

 

Fontes:

Rede Telecine / Globoplay

https://globoplay.globo.com/canais/telecine/

https://www.imdb.com/

https://www.adorocinema.com/

 

 

Imagens:

Telecine / Globoplay via print no site

Google Imagens

Série: Encantado’s

Por Flávio Dias Elenco de "Encantado's" Foto: divulgação TV Globo É difícil você encontrar nos streamings ou na TV uma obra ...